OS PERCURSOS DO CORPO NA CULTURA CONTEMPORÂNEA
(Malu Fontes)
O texto aborda como o corpo feminino na sociedade contemporânea sofre alterações ou pressões diante do apelo midiático e publicitário para que as mulheres possuam corpos, “quase que humanamente impossíveis de serem cultivados.” Destaco aqui palavras humanamente e cultivados, pois naturalmente os corpos entram em processo de envelhecimento e decadência e contrariando a natureza humana, os recursos tecnológicos atuam para superar ou retardar o perecimento do corpo, que cultivam novas formas físicas para que estejam mais enquadradas aos padrões aceitáveis e amplamente difundidos.
É certo que os referencias de beleza são distintos em cada época histórica ou contexto cultural, mas é igualmente comum a rejeição de seus “iguais” ou de si mesmo devido ao corpo que dissona do modelo canônico.
Essa necessidade de aceitação e auto-aceitação, resulta num processo de individualização e esvaziamento do sujeito coletivo, pois a imagem do corpo torna-se fator mais relevante para os indivíduos do que os valores que estes possuem. Não é mais necessários vender idéias para construir os vínculos sociais e afetivos e sim vender uma imagem.
Sabe-se hoje que uma boa saúde física está atrelada à hábitos saudáveis de alimentação e atividades físicas, mas o culto ao corpo na nossa sociedade, extrapola os limites do que é considerado saudável. É assim há séculos. De alguma maneira os corpos são / foram submetidos à torturas para serem aceitos. Segundo a autora, os corpos femininos são as grandes vítimas destes apelos sociais para a conquista do corpo canônico por possuir uma potencial vulnerabilidade diante dos meios de comunicação e mídias.
VELHICE, UMA PALAVRA QUASE PROIBIDA; TERCEIRA IDADE, EXPRESSÃO QUASE HEGEMÔNICA
(Annamaria da Rocha Jatobá Palácios)
O texto tem como objetivo central elucidar o discurso que gira em torno do que é politicamente correto a respeito do conceito/nomenclatura diante do envelhecimento dos consumidores de produtos estéticos. A análise parte de anúncios da indústria cosmetológica, feitos em revistas femininas onde predomina a utilização da expressão terceira idade ao invés de velhice, como uma maneira de dar a falsa sensação à leitora, que encontra-se nesta fase do desenvolvimento humano, que não está envelhecendo, apenas mudando de fase. Para a indústria, utilizar a palavra envelhecer pode significar que a vida está chegando ao final e se está próximo ao final, não haveria motivos para que a as leais leitoras e consumidoras em potencial invistam na sua aparência. A mudança do conceito também surge em um momento em que a expectativa de vida e a capacidade laborativa e produtiva das pessoas idosas se ampliaram, refletindo também no poder aquisitivo deste público, o que os tornam alvos fáceis do mercado publicitário que constantemente busca novas maneiras de seduzir e conquistar consumidores.
CORPOS AMPUTADOS E PROTETIZADOS: “NATURALIZANDO” NOVAS FORMAS DE HABITAR O CORPO NA CONTEMPORANEIDADE
(Luciana Loureane Paiva)
No ensaio, a autora trata das transformações dos corpos provocadas pela subjetivação do sujeito de acordo com os diferentes modos de vida e com a forma de habitar, transformar, movimentar e conceber este corpo, para si e para o outro, buscando a inatingível perfeição e juventude. A autora ressalta também que as transformações corpóreas podem ocorrer em conseqüência de acidentes e ou doenças, alheias à vontade do sujeito.
Neste ensaio, a autora também mostra um estudo realizado em uma clínica especializada em reabilitação e protetização ortopédica, visando elucidar os efeitos produzidos pelas amputações nos corpos e vidas das pessoas. Os pacientes que participaram dos estudos, socializaram suas experiências vividas em épocas o qual os seus corpos eram considerados perfeitos e experiências com seus corpos mutilados. Para os pacientes, falar deste segundo corpo foi muito difícil pois verbalizar estas experiências implica evidenciar dolorosamente os seus defeitos e limitações físicas atuais e lamentar por um passado que não mais retornará. Fazendo contraponto aos relatos dos pacientes, a autora cita Couto (2003), onde ele afirma cada vez mis se faz necessário superar limites, vencer barreiras, operar correções, equipar a infra-estrutura do corpo para deixá-lo mais eficiente, produtivo, performático, saudável e válido. O corpo amputado passa por esse processo de reconfiguração, onde este sujeito se deparará e construirá sua nova identidade, necessária para dar um novo sentido ao seu modo de vida.
Essas re-configurações ocorrem graças ao uso das tecnologias no campo da biologia, provocando uma evolução biotecnológica que atuam nos corpos seja para preservar a sua saúde, a beleza ou ampliar o desempenho. Atualmente as máquinas estão sendo inseridas aos corpos como parte natural deles mesmos, transformando-os em um objeto de constante elaboração e mutação.
CORPO, FRAGMENTOS E LIGAÇÕES: A MICRO- HISTÓRIA DE ALGUNS ÓRGÃOS E DE CERTAS PROMESSAS
( Ieda Tucherman)
No artigo o corpo moderno serve de referência para compreender o homem e a sua percepção de si mesmo, para além de tantas oposições criadas na modernidade como natureza/cultura; natural/artificial; orgânico/inorgânico; atual/virtual; vivo/não vivo, que não dão mais conta de representar esta realidade pós - humana ou pós biológica, como conferem alguns teóricos da atualidade. Esta realidade pós - humana ou pós biológica surgem devido às crescentes mudanças e descobertas tecnológicas (nos campos da biologia molecular, bioengenharia, robótica, nanotecnologia, genética, etc) que refletem no corpo que torna-se um lugar de encenação, onde o eu tecnológico se mistura ao eu cultural, criando assim um corpo híbrido.
A autora ainda disserta sobre o cinema, que retrata nos filmes as tecnologias não mais apenas com objetivo enriquecer os enredos das tramas e nem de encantar o público através das imagens da ficção científica e sim, uma nova maneira de entender e se encontrar nesta nova realidade tecnocientífica.